Após um hiato nas publicações, retorno com esta publicação que permitiu debruçar-me bastante sobre o tema que procuro desenvolver.
Uma das propostas deste blog é, além de compartilhar com as gerações futuras minha visão e vivências no contexto do Ving Tsun Kung Fu, é dialogar com o público que possui quase ou nenhum contato com o Círculo Marcial.
Para isso, pude contar com a ajuda de alguns irmãos kung fu e da convivência com meu Si Fu, o Mestre Julio Camacho, para a construção desse pensamento que, antes de mais nada, é uma forma de oferecer um ponto de vista diferenciado sobre um tema que possui muitas lendas difundidas a seu respeito, e que habitam o imaginário Ocidental sobre o que sejam as Artes Marciais.
Enfatizo que as ideias aqui compartilhadas representam minhas próprias interpretações, baseadas em entrevistas, pesquisas e observações sobre círculo marcial.
BOA LEITURA!
UM BREVE HISTÓRICO...
Voltemos ao século XIX. Período em que países europeus como Inglaterra, França, Alemanha estavam na chamada "corrida imperialista", na busca por mais territórios, mercados e mão-de-obra a fim de alimentar o novo modo de produção surgido a partir da 1ª Revolução Industrial. África e Ásia foram os continentes mais castigados com esse processo.
É comumente difundido que em áreas como Hong Kong (antigo protetorado britânico), a população apenas observou e aceitou o subjugo europeu, tal teoria por sua vez, já caiu por terra. Como exemplo da resistência chinesa ante o imperialismo europeu surgiu a chamada Sociedade dos Punhos da Justiça e Equidade, didaticamente conhecida como "Revolução dos Boxers". Os boxers eram os membros desse levante, sendo chamados assim pelos ocidentais uma vez que utilizavam as artes marciais chinesas na luta contra os estrangeiros na China. Ao levaram pânico aos ocidentais, isso contribuiu para a construção da visão estereotipada no Ocidente dos chineses como um "povo exótico, violento e ardiloso".
Uma das propostas deste blog é, além de compartilhar com as gerações futuras minha visão e vivências no contexto do Ving Tsun Kung Fu, é dialogar com o público que possui quase ou nenhum contato com o Círculo Marcial.
Para isso, pude contar com a ajuda de alguns irmãos kung fu e da convivência com meu Si Fu, o Mestre Julio Camacho, para a construção desse pensamento que, antes de mais nada, é uma forma de oferecer um ponto de vista diferenciado sobre um tema que possui muitas lendas difundidas a seu respeito, e que habitam o imaginário Ocidental sobre o que sejam as Artes Marciais.
Enfatizo que as ideias aqui compartilhadas representam minhas próprias interpretações, baseadas em entrevistas, pesquisas e observações sobre círculo marcial.
UM BREVE HISTÓRICO...
Voltemos ao século XIX. Período em que países europeus como Inglaterra, França, Alemanha estavam na chamada "corrida imperialista", na busca por mais territórios, mercados e mão-de-obra a fim de alimentar o novo modo de produção surgido a partir da 1ª Revolução Industrial. África e Ásia foram os continentes mais castigados com esse processo.
É comumente difundido que em áreas como Hong Kong (antigo protetorado britânico), a população apenas observou e aceitou o subjugo europeu, tal teoria por sua vez, já caiu por terra. Como exemplo da resistência chinesa ante o imperialismo europeu surgiu a chamada Sociedade dos Punhos da Justiça e Equidade, didaticamente conhecida como "Revolução dos Boxers". Os boxers eram os membros desse levante, sendo chamados assim pelos ocidentais uma vez que utilizavam as artes marciais chinesas na luta contra os estrangeiros na China. Ao levaram pânico aos ocidentais, isso contribuiu para a construção da visão estereotipada no Ocidente dos chineses como um "povo exótico, violento e ardiloso".
O processo de inserção e transmissão do Kung Fu em território brasileiro está diretamente ligado a dois momentos: o primeiro no início do século XIX, devido ao enfraquecimento e empobrecimento chinês, conduzindo milhões de chineses para países como Estados Unidos, Austrália e África do Sul; e a segunda grande onda quando da Revolução Comunista de 1949, quando cerca de três milhões de pessoas fugiram para Hong Kong e Taiwan. Este período foi bastante significativo para a formação da comunidade chinesa no Brasil e, para a disseminação do Kung Fu no Brasil. Em 1950, com o amplo programa industrial brasileiro e a escassez de mão-de-obra facilitaram ainda mais a vinda de imigrantes com formação técnico industrial. (Rev Bras Educ Fís Esporte. São Paulo, 2014 - p, 4).
Oriundos dessa diáspora, surgirão os primeiros mestres chineses, também conhecidos como "mestres pioneiros", observando a oportunidade e o interesse, acabam sendo os responsáveis pela transmissão do Kung Fu, e por consequência, o contato entre duas culturas distintas e tão diferentes.
Aos que viveram entre os finais da década de 1950 a 1980 se lembrarão do nome de Bruce Lee (foto) como exemplo de expoente das artes marciais. Decerto, ele prestou um serviço que popularizou o Sistema Ving Tsun e as artes marciais não só no Brasil, mas em todo o Ocidente. Entretanto, paralelamente, essa popularização causou um desserviço com a tamanha exposição, levando os muitos interessados a corromper o "real" significado de Kung Fu (功夫).
Partindo do princípio que diferenciá-los não é tarefa fácil, precisamos tentar compreender: o que é KUNG FU e o que são ARTES MARCIAIS, visto que uma errônea interpretação causa, há algumas décadas, uma confusão entre o significado destes termos.
Oriundos dessa diáspora, surgirão os primeiros mestres chineses, também conhecidos como "mestres pioneiros", observando a oportunidade e o interesse, acabam sendo os responsáveis pela transmissão do Kung Fu, e por consequência, o contato entre duas culturas distintas e tão diferentes.
Aos que viveram entre os finais da década de 1950 a 1980 se lembrarão do nome de Bruce Lee (foto) como exemplo de expoente das artes marciais. Decerto, ele prestou um serviço que popularizou o Sistema Ving Tsun e as artes marciais não só no Brasil, mas em todo o Ocidente. Entretanto, paralelamente, essa popularização causou um desserviço com a tamanha exposição, levando os muitos interessados a corromper o "real" significado de Kung Fu (功夫).
À esquerda, Patriarca Ip Man e seu Aluno Lee Jun-fan (Fonte: Internet) |
TRAÇANDO CONCEITOS
Partindo do princípio que diferenciá-los não é tarefa fácil, precisamos tentar compreender: o que é KUNG FU e o que são ARTES MARCIAIS, visto que uma errônea interpretação causa, há algumas décadas, uma confusão entre o significado destes termos.
Segundo o Líder da Moy Yat Ving Tsun Martial Intellingence, Grão Mestre Leo Imamura:
Para arte marcial podem existir tantas outras interpretações, dentre uma delas, seriam artes voltadas para a guerra, no entanto, com características refinadas, onde ocorre a utilização da inteligência estratégica.
Recentemente, pude ouvir uma interpretação onde a arte da guerra estaria voltada para a resolução de nossos próprios conflitos internos. É necessário dizer que, no sentido aqui apresentado, guerra pode-se entender por qualquer conflito que ocorra no transcorrer das relações humanas, podendo ou não nos desestabilizar emocionalmente. Será levado em conta o quanto seremos capazes de buscar a resolução para estes conflitos, isto é, como o indivíduo será capaz de desenvolver sua própria inteligência estratégica.
Portanto, se eu tivesse que classificar cada um desses termos através de uma maneira mais didática, o KUNG FU seria a manifestação de desenvolvimento das habilidades de um indivíduo, incluindo seu próprio desenvolvimento, enquanto as ARTES MARCIAIS têm no KUNG FU uma ferramenta para alcançar este desenvolvimento.
"Ao contrário do que muita gente pensa, Kung Fu não é somente o termo genérico para as artes marciais chinesas, ele remonta das tradições confucianas. Portanto, a noção de Kung Fu é uma habilidade que você adquiri em qualquer campo da atividade humana, estando atrelada ao desenvolvimento humano".
Confira no vídeo abaixo, uma entrevista de Grão Mestre Leo Imamura ao canal do YouTube Inteligência Marcial TV, no qual ele discorre mais sobre o tema:
Ora, então o que viriam a ser as ARTES MARCIAIS?
Recentemente, pude ouvir uma interpretação onde a arte da guerra estaria voltada para a resolução de nossos próprios conflitos internos. É necessário dizer que, no sentido aqui apresentado, guerra pode-se entender por qualquer conflito que ocorra no transcorrer das relações humanas, podendo ou não nos desestabilizar emocionalmente. Será levado em conta o quanto seremos capazes de buscar a resolução para estes conflitos, isto é, como o indivíduo será capaz de desenvolver sua própria inteligência estratégica.
DISSEMINAÇÃO DE ESTEREÓTIPOS
Como já dito, após a passagem do icônico Bruce Lee, estou certo em presumir que muitos desejaram ter as mesmas habilidades. Seus filmes faziam brilhar os olhos de qualquer um que sonhava ter domínio sobre algum tipo de modalidade de combate. Vemos nesse fenômeno, uma notória influência do "Pequeno Dragão".
A essa altura, é importante eu me desprender da figura de Bruce Lee e apontar para outras produções que "contribuíram" na mitificação e estereotipia do Kung Fu.
- KUNG FU
Série Kung Fu (1972) (Fonte: Internet) |
- THE LAST DRAGON
A trama é ambientada em Nova York, nos idos do ano de 1985, acompanhando a história de um jovem estudante de artes marciais chamado Leroy Green, ou "Bruce Leroy", tem sonhos de tornar-se um grande artista marcial, tendo como grande ídolo Bruce Lee (que surpresa!).
Neste filme, a estereotipia reside em apresentar ao público elementos oriundos da cultura chinesa de forma caricata. Lembrando que na época em que o filme se passa, o mundo do Kung Fu era desconhecido, onde as únicas referências eram os filmes e séries produzidos no ocidente.
The Last Dragon (1985). À direita, como exemplo, observa-se como o filme apresentava ao público a ideia de um artista marcial. |
Para encerrar, gostaria de frisar que não tenho nenhum problema com filmes ou produções destes gêneros, pelo contrário, até as acho divertidas. Quem nunca se empolgou ao assistir filmes como 'Mr. Nice Guy", com Jackie Chan, "Cão de Briga", com Jet Li, ou até mesmo o famoso "O Grande Mestre", com Donnie Yen, etc?
Na tentativa de conseguirem uma fama relativa e atenção de um público já existente, os auto-proclamados "profissionais" das artes marciais acabam não tendo nenhuma base para dar prosseguimento aos seus trabalhos tendo que fazer emendas com coisas que quase ou nada tem a ver com o trabalho que está sendo proposto. A exemplo disso, é comum encontrar na própria internet instrutores que dizem "ensinar" Ving Tsun (Wing Chun), mas que, como não tiveram acesso pleno (ou sequer tiveram acesso) ao Sistema, incorrem em erros grotescos, aplicando exercícios aeróbicos e anaeróbicos às rotinas de práticas.
Na tentativa de conseguirem uma fama relativa e atenção de um público já existente, os auto-proclamados "profissionais" das artes marciais acabam não tendo nenhuma base para dar prosseguimento aos seus trabalhos tendo que fazer emendas com coisas que quase ou nada tem a ver com o trabalho que está sendo proposto. A exemplo disso, é comum encontrar na própria internet instrutores que dizem "ensinar" Ving Tsun (Wing Chun), mas que, como não tiveram acesso pleno (ou sequer tiveram acesso) ao Sistema, incorrem em erros grotescos, aplicando exercícios aeróbicos e anaeróbicos às rotinas de práticas.
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